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Sociedade da transparência

  • Foto do escritor: Horácio Amici
    Horácio Amici
  • 14 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Byung-Chul Han é um filósofo e ensaísta sul-coreano. É professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de diversos livros que abordam questões importantes da sociedade contemporânea. Seu livro mais conhecido intitula-se “Sociedade do Cansaço” e, em um post anterior, fiz um texto sobre ele.


Outro livro do autor igualmente relevante é “Sociedade da Transparência”. Nele, Han tenta mostrar o quanto a nossa forma de viver está marcada por coisas “rasas e planas”, para que possam “se encaixar sem qualquer resistência ao curso raso do capital, da comunicação e da informação”.


Tudo perde sua singularidade para poder caber nessa lógica em que tudo se apequena, se uniformiza. Ao mesmo tempo, a transparência “estabiliza e acelera o sistema, eliminando o outro e o estranho.”


Han traz o quanto Freud e a psicanálise se opõem a essa lógica em que só a transparência impera: o inconsciente é, em última instância, oculto, ‘opaco’, guarda um tanto de intraduzível e de incomunicável.


O amor passa a ser domesticado, os sofrimentos deixam de ser narrados. Tudo, para ter valor, tem que entrar na lógica de uma “forma de mercadoria”, em que cada sujeito se torna uma espécie de “próprio objeto-propaganda”. Empreendemos a nós mesmo ao extremo. ▫️

Tudo (que representa positividade) é exaustivamente e pornograficamente dito, sem nada verdadeiramente se dizer. “A tirania da intimidade psicologiza e personaliza tudo”.


A clínica, em algum sentido, talvez ainda abarque uma possibilidade de ‘opacidade’ frente a tudo isso que se apresenta. A linguagem, no setting terapêutico, é necessariamente densa, carregada de historicidade e pessoalidade: traz sentidos que fogem da transparência, da uniformização, do necessariamente positivo, do inevitavelmente raso.


Clínica como subversão dessa lógica de todos, mas que não abre espaço verdadeiramente para ninguém. Clínica como um adentrar profundo no mais ‘intrasparente’ de nós mesmos.

 
 
 

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